Há um tempo atrás, quando iam à caça da baleia, não havia roupas de oleado. Por isso vestiam uma camisa de lã com uma jaqueta de cotim. Levavam sempre consigo uma bolsa de pano que chamavam mala do farnel. Quando rebentavam os foguetes, corriam como loucos para ver quem arriava primeiro o bote. Usavam uma caixa de madeira para pôr as malas, a fim de não molhar a comida.Partiam de manhã atrás da lancha, quando havia lanchas, porque nas Ribeiras chegaram a arriar sem lancha. Quando o vigia tirava um pano branco, a que se chamava o sinal, era porque tinham chegado ao local. Quando as baleias surgiam à superfície, o vigia punha novamente um pano branco e fazia sinais de fumo com uma fogueira. Era assim que comunicavam porque não havia outra forma de o fazer.Se havia vento, o bote navegava à vela e usavam as pás para ajudar ao andamento. Quando havia menos vento, remavam directamente à cruz do meio da baleia, que era no meio do rabo dela. Isto porque, se o bote cortasse o releitrão da baleia, ela pressentia-o. A canoa encostava a mais ou menos dois ou três metros dela. O trancador atirava o arpão por diante ou por trás do ampo. Quando a baleia levava com o arpão, atirava-se para o lado donde tinha levado a picada. Por isso é que o bote não se encostava mais – havia o perigo de ela quebrar o bote ou de o revirar.Iam no bote cerca de sete homens. Levavam-se duas caixas de linha, uma com duzentas braças e outra com cem. Tudo isto a baleia levava quando lhe enfiavam o arpão. Se fosse baleia grande, podia levar linha de dois ou três botes, porque uma baleia pode aguentar debaixo de água cerca de quatro ou cinco quartos de hora. Quando ela vinha acima, os tripulantes puxavam a corda para depois irem lançando na baleia até que ela começasse a deitar sangue pela venta. Quando se via o sangue, todos ficavam satisfeitos, porque estava prestes a morrer.Tudo isto era muito perigoso. Todas as baleias que se feriam, desatavam a uma velocidade de vinte ou trinta milhas por hora e tanto podiam dirigir-se para sul como para nascente ou para poente. E, nesse momento, ai do que apanhassem pela frente!Depois, faziam-lhe um buraco na venta, quando era só uma, ou no traseiro, quando eram duas ou mais, onde lhe enfiavam os estrapres com o carro de reboque para a rebocarem. Tempos houve em que as rebocavam a remos, quando não havia lancha. E era assim antigamente a caça à baleia.
SALVEM AS BALEIAS
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